Autoperdão e ação responsável
Suponhamos que a cada reencarnação recebemos do Criador um canteiro com uma terra muito fértil, para plantar flores, durante toda nossa vida.
Nascemos com as sementes das flores mas, ao invés de plantá-las, arranjamos sementes de espinhos e as semeamos, enchendo nosso canteiro de espinheiros.
Vamos plantando os nossos espinhos, até o dia em que olhamos para trás e percebemos um grande espinheiro.
Então, podemos ter três atitudes diferentes:
Se cultivamos o culpismo, devido ao remorso de não ter plantado as flores que deveríamos, simplesmente nos condenamos a deitar e rolar no espinheiro para nos punirmos, tentando aliviar a consciência de culpa.
Se somos pessoas que cultivamos o desculpismo, começamos a dizer que foi o vento que trouxe as sementes de espinhos,que não temos nada a ver com isso, etc.
Finalmente, se buscamosa ação responsável, ao perceber o espinheiro, assumimos tê-lo plantado e arrependemo-nos do fato.
Depois, percebemos que as sementes das flores continuam em nossas mãos e que podemos começar a plantá-las, agora que estamos mais conscientes.
Ao mesmo tempo sabemos que devemos retirar, um a um, todos os espinhos plantados e plantar uma flor no seu lugar.
* * *
Reflitamos sobre as três atitudes:
De que adianta cravar os espinhos plantados na própria carne? Por que aumentar o sofrimento?
Por acaso os espinhos diminuem quando agimos assim? A verdade é que não. De nada adianta. Este é o mecanismo dos que nos afundamos na culpa e deixamos que ela comande nossas vidas.
Substituir os atos de desamor praticados à vida com mais desamor ainda para conosco mesmos não resolve e não cura.
Por outro lado, pensando naqueles que ainda conseguimos achar desculpa para todo e qualquer desatino, por mais absurdo que ele pareça, veremos:
Os que fingimos que o espinheiro não tem nada a ver conosco, apenas estamos postergando o despertar da consciência.
Agindo assim, muitas vezes continuamos plantando mais e mais espinhos, fazendo com que o estrago fique cada vez maior.
O hábito de sempre encontrar desculpas e justificativas para todas nossas ações tem caráter doentio e precisa de atenção imediata de nossa parte.
O ego, em fuga desastrosa, procura justificar os erros mediante aparentes motivos justos. Tal costume degenera todo senso moral e pode nos levar a desequilíbrios psicológicos seríssimos.
Apenas a última opção, a da ação responsável, é caminho seguro.
É uma atitude proativa, pois ao assumir a responsabilidade pelos espinhos plantados, arrependemo-nos e buscamos substituí-los pelas flores.
Nesse ato cobrimos a multidão de pecados, conforme o ensino da Epístola de Pedro, referindo-se ao poder de cura do amor.
Assim crescemos, aprendemos e ressarcimos à Lei maior.
* * *
Sempre que cometermos erros, procuremos nos autoperdoar, atendendo à proposta da ação responsável, que troca o peso da culpa pela carga educativa da responsabilidade.
Redação do Momento Espírita com base no cap. 3 da obra Psicoterapia à luz do Evangelho de
Jesus, de Alírio de Cerqueira Filho, ed. Ebm.
Em 29.11.2011.
Nossas mães africanas
Eis aqui a escrava do Senhor, cumpra-se em mim segundo a sua palavra.
Esta é a forma com a qual Maria, a mãe de Jesus, responde ao mensageiro celeste que lhe vem anunciar a concepção da criança.
Estranho se posicionar como escrava quem foi escolhida para ser a excelsa mãe de Jesus. Basta uma pequena reflexão, no entanto, para verificarmos como a expressão está adequada.
Recordamos de tantas escravas, ao longo da História, que se transformaram em auxiliares indispensáveis dos seus senhores.
Escravas cujos nomes acabaram associados aos seus próprios senhores.
No Brasil, lembramos das escravas africanas que serviram ao homem branco. Muitas delas não somente carregaram o sinhozinho nos braços mas o alimentaram com o próprio seio.
Tornaram-se suas segundas mães, acompanhando-os mesmo depois de crescidos, na formação do novo lar, a atender-lhes os filhos, como uma avó.
Avó de cor. Avó de amor.
Amas de leite que, por vezes, tinham seu próprio rebento afastado dos braços, a fim de que sobrasse mais alimento dos seus seios para o filho branco.
E, por não terem o seu bebê nos braços, por terem a saudade a lhes magoar a alma, por sentirem falta do seu filhinho, drasticamente afastado de seu carinho, dedicavam-se ao filho da alheia carne.
O filho do sinhô, o filho da sinhá.
Quem poderá esquecer como essas mães alimentaram, não somente o corpo, mas a imaginação e a mente das crianças sob sua guarda?
Quantas histórias das suas longínquas terras, das tradições de sua gente povoaram as noites daqueles meninos e meninas atentos, ao redor do fogo, no terreiro...
Ou no aconchego da casa grande, ao pé do fogão.
Quantos mingaus, cozidos, temperos foram acrescentados ao cardápio diário.
Aprendendo a língua de quem as tinha sob seus serviços, introduziram palavras diferentes no vocabulário dos pequenos.
E para os acalmar, nas noites de medo, elas cantavam as melodias com que foram elas próprias acalentadas em sua infância.
E, enquanto a saudade as consumia intimamente, também lembravam em versos das riquezas de sua terra natal, de melodias, de danças, de cantorias.
Recordavam dos dias de alegria, quando a liberdade lhes sorria e o futuro era sonhado, nas tardes quentes e nas noites mornas.
Escravas mães. Mães escravas.
Benditas sejam por todos os cuidados dispensados ao homem branco, por sua capacidade de amar o filho alheio.
Benditas sejam por sua grandeza, por sua dedicação, pela contribuição à cultura do povo que as escravizou.
Que nunca esqueçamos o quanto devemos a essas criaturas pois se a escravidão as mantinha presas a tarefas determinadas, foi de forma voluntária que entregaram em holocausto ao amor o próprio coração.
Redação do Momento Espírita.
Em 30.11.2011.
Diego não conhecia o mar.
O pai, Santiago Kovadloff, resolveu levá-lo para que conhecesse o mar gigantesco.
Viajaram para o sul. O oceano estava do outro lado dos bancos de areia, esperando.
Quando o menino e o pai alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar apareceu na frente de seus olhos.
Foi tanta a imensidão do mar, tanto seu fulgor, que o menino ficou mudo com tamanha beleza.
E, quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai:
“Pai, me ajuda a olhar?”
* * *
Nós, pais, estamos no mundo para ajudar nossos filhos a olhar.
Por trás desse me ajuda a olhar, de menino inocente e admirado, estão as grandes questões da educação no lar.
A pergunta do filho poderia ser entendida como: Pai, me ajuda a perceber todas as belezas, as nuances, tudo que ainda não consigo perceber?
Ajuda-me a saber admirar as coisas importantes da vida, você que já viveu tanto e tem tanta bagagem de mundo, tanta experiência?
Ajuda-me a compreender a existência, seus desafios, seus objetivos maiores?
Ajuda-me a não temer os problemas, a aprender com eles, toda vez que resolverem aparecer?
Ajuda-me a caminhar? Sem precisar caminhar por mim, pois tenho que descobrir meus próprios passos, mas, nos primeiros, principalmente, você fica ao meu lado?
E quando eu cair, você vai estar lá? Pois muitas coisas neste mundo me assustam, e preciso de uma segurança, de um lar para onde eu possa voltar.
Ajuda-me a olhar para dentro de mim, pai?
Preciso me conhecer para me amar, para me perdoar e não deixar que a culpa me faça menor.
Ajuda-me a olhar para dentro de mim?
A descobrir minhas potencialidades, minhas habilidades, o que tenho de bom?
Pois se você, pai, disser: “Você pode, meu filho. Você tem capacidade você é inteligente...” Aí sim, vou acreditar.
E, se nessa busca eu encontrar algo que não goste, não suporte, você me ajuda a eu não desistir de mim mesmo?
Por isso preciso de você aqui, ao meu lado, me ensinando a olhar o mundo e a mim com olhos de quem quer a paz e não mais a discórdia, a violência.
Por isso preciso que me ensine a olhar, que me ensine a escolher para que, um dia, quando meus olhos estiverem vendo o oceano, da altura dos seus... eu então possa dizer ao meu filho:
“Vou lhe ensinar a olhar, meu filho, não se preocupe. Segure firme em minhas mãos e vamos olhar o mundo juntos... Sempre juntos.”
* * *
Allan Kardec, codificador da Doutrina Espírita, em O livro dos Espíritos assevera:
Os Espíritos apenas entram navida corporal para se aperfeiçoar e melhorar.
A fraqueza da idade infantil ostorna flexíveis, acessíveis aos conselhos da experiência e dos que devemfazê-los progredir.
É então que podem reformar seu caráter e reprimir suasmás tendências. Este é o dever que Deus confiou a seus pais, missãosagrada pela qual terão de responder.
Redação do Momento Espírita com base em trecho de O livro dos abraços, de Eduardo Galeano, ed. Porto e no item 385 de O livro dos Espíritos, de Allan Kardec, ed. Feb.
Em 01.12.2011.

É... não deixa de ser uma doutrina bem fundamentada . E vamos plantar rosas no lugar dos espinhos.
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