terça-feira, 8 de novembro de 2011

Frei Vicente (Paróquia Santo Antônio) - Brasília/DF





Fonte: REVISTA D (Correio Braziliense)

Com opiniões firmes sobre temas polêmicos, ele atrai muitos fiéis para a missa que celebra aos domingos na Igreja Santo Antônio

Bastam alguns minutos de conversa para perceber que se trata de uma figura simpática, de riso fácil. Na hora de fazer as fotos, obedece com bom humor aos comandos do fotógrafo. Mas se recusa a fazer fotos de mãos postas, em sinal religioso. Tampouco gosta da idéia de ser fotografado no altar, ao lado de imagens de santos ou crucifixos. Justifica de forma simples. Para Frei Vicente, a religião não se identifica com nenhuma imagem. ‘‘É uma atitude interior do ser humano.’’

Aos 58 anos, esse padre exerce fascínio sobre os fiéis. Os que lotam a Igreja Santo Antônio, na 911 Sul, dizem que vão até lá pela simpatia do celebrante. Também enfrentam a fome e o calor do meio-dia, todos os domingos, para escutar Frei Vicente falar, falar. ‘‘Ele diz as coisas que a gente espera ouvir. A homilia dele é muito atualizada’’, diz Socorro Raposo, 62 anos, uma entre muitas que não se incomodam em se espremer e assistir à missa inteira de pé.

O frei sabe que as palavras têm poder. Faz bom uso delas. ‘‘Falo rasgado mesmo’’, brinca. Um dom de quem fez pós-graduação em Políticas Educacionais. Ordenou-se em 1972 e de lá para cá assumiu a missão de inserir a religião na educação e nos meios de comunicação.

Conta uma história pessoal de cargos importantes. Foi vice-reitor da Universidade São Francisco, em São Paulo, e diretor da Editora Vozes. Até o ano passado, coordenava as políticas de inserção de ensino religioso nas escolas públicas do Brasil. Uma preocupação que o acompanha há pelo menos três décadas. Em 1988, participou das mudanças na Lei de Diretrizes e Bases.

Sempre defendeu ‘‘um ensino religioso laico, assim como devem ser o Estado e a escola’’. Para o frei, as crianças não podem ser induzidas aos ensinamentos de uma religião específica. Melhor seria conhecerem as diversas práticas religiosas para depois escolherem uma e respeitarem a do próximo.

Ele faz sua parte.

Diz que adora ter amigos, inclusive espíritas e pais-de-santo. Na verdade, quando o frei é apenas Vicente Bohne, não gosta de falar sobre religião. Prefere conversar sobre os mais variados assuntos. Quem o conhece bem admira sua cultura. Conhecimentos adquiridos com muita leitura. O padre também gosta de ir ao cinema, ao teatro e a exposições. Aprecia um tantinho de cerveja, ‘‘mas prefiro o vinho’’, sorri.

Tem algo, porém, que entristece o padre admirado pelos católicos. Não gosta de ser venerado, adorado. Prefere não falar sobre os trabalhos assistencialistas que promove. ‘‘Ele não gosta de se evidenciar’’, conta o ministro da Eucaristia Delvan de Pinho, que trabalha com Vicente há três anos. Mas não adianta avisar. Já teve missa em que os fiéis o aplaudiram de pé, depois de um sermão. O padre disfarçou. ‘‘Não quero ser um padre pop da cidade’’, analisa.

Na verdade, o frei conta que não tem muita prática em paróquias. As missas são em dias restritos. Domingo ao meio-dia é sagrado. A lotação, idem. Admite que o altar lhe dá um grande prazer, mas uma tensão proporcional. Para ele, a responsabilidade é enorme. Também faz atendimentos individuais. Recebe pessoas que desejam escutar as suas palavras. ‘‘Sei que tenho um poder. A minha conversa transforma a vida das pessoas porque consigo fazê-las encontrar a sua essência.’’

Conta com a ajuda de psicólogos. Aliás, Frei Vicente considera tais profissionais mais importantes que os sociólogos. ‘‘Estamos cada vez mais acuados em nossas carências’’, avalia. Quando percebe que o problema do fiel será resolvido com terapia, indica um divã.

Na maior parte do tempo, está sem batina. Usa terno, gravata e segue para a rotina diária de trabalho puxado. Como ele mesmo define, é um procurador de várias congregações religiosas e as representa junto ao governo. Bate perna nos ministérios e instituições em busca de licenças para programas de televisão, publicações, alvarás e outras tantas infinidades burocráticas.

NO BRASIL

O sotaque denuncia a origem. Vicente é alemão. Nasceu na cidade de Scherin, antiga Alemanha Oriental. Não guarda boas lembranças do país dividido. Nascido dois dias depois do fim da Segunda Guerra Mundial, ele só conheceu o pai no aniversário de 3 anos. O patriarca da família Bohne era militar e foi preso no conflito. Falar de guerra desperta grande tristeza no sacerdote. Diz que a família sofreu demais naqueles anos. Prefere mudar de assunto.

Quando decidiu ser padre, abriu mão da herança da família, arrumou as malas e rumou para o Brasil. Era janeiro de 1965. Por aqui, morou em vários lugares. Bauru, Blumenau, Petrópolis, São Paulo. Está em Brasília há oito anos e adora a cidade, que chama de ‘‘um sonho’’. Só sente falta de mais agitação cultural, mas comemora a proximidade de lugares bucólicos como Itiquira e Pirenópolis. Ele gosta de cachoeiras e, quando pode, foge da cidade em busca de sossego.

Aprecia o país que elegeu como seu, especialmente a capacidade brasileira de integrar os contrários, as raças e as crenças. No entanto, não se sente um brasileiro de verdade apesar de estar aqui há quase 40 anos. ‘‘Para ser brasileiro, é preciso saber saborear poesia’’, conclui.

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‘‘ RELIGIÃO

Mais da metade das pessoas praticam religião por causa de carências pessoais

ABORTO

A partir do momento em que existe um ser humano, os direitos dele de inquilino devem ser respeitados. Não posso colocá-lo para fora

VIRGINDADE

A polêmica não é a virgindade e sim o significado de uma relação. Muita gente vive no analfabetismo da atividade sexual e quando acorda sente um grande vazio

HOMOSSEXUALISMO

Acredito que a homossexualidade não é uma opção e sim uma orientação sexual. A pessoa pode ser homossexual devido a algum trauma na vida ou por causa da genética. A religião não pode condenar essa diferença

ESTILO MARCELO ROSSI

Tenho medo de que esse tipo de prática legitime nossa fuga e nos faça esquecer nossos verdadeiros problemas

CELIBATO

Praticar o celibato por um amor maior é um valor. Acredito, no entanto, que a figura do padre não deveria existir como ela existe. A própria comunidade poderia ajudar nas atividades da igreja. Mas penso que na hora de abrir o fundo da alma, as pessoas sempre vão preferir alguém sem vínculos"


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Um comentário:

  1. Nao e o Frei que conheci! Nunca foi Vice-reitor da Universidade apenas Pro-reitor de uma Peo-reitoria totalmente insipiente,

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